Uma carta de amor para o meu cachorro
Eu estava sentada no sofá pensando em dormir, quando você entrou na sala. Em pé na minha frente, você olhou nos meus olhos, sua boca abrindo e fechando e abrindo novamente como se tivesse algo a dizer. Talvez o cansaço estivesse deixando meus pensamentos um pouco confusos, mas naquele instante percebi que te amava.
Você se lembra do dia em que nos conhecemos? Eu lembro porque fui procurar por outro cão, não por você. Arrastei meu marido porque queria ver o cachorro branco manchado cuja foto estampava a primeira página do site do abrigo de animais. Quando perguntei sobre ele, a conselheira de adoção me disse que ele era muito enérgico para uma dona de cachorro pela primeira vez.
Então ela me mostrou você: seus cotovelos com cicatrizes, seu corpo levemente deformado, seu pelo branco com manchas irregulares. Se eu fosse mais direta, teria dito a ela que eu não gostava de cães tigrados porque eles parecem criminosos, mas ela já estava colocando uma coleira em você e eu não queria que ela soubesse sobre os meus preconceitos caninos.
“Ele não é todo tigrado”, eu disse ao meu marido enquanto seguíamos você e a conselheira para um recinto empoeirado. Seu nome era Dante na época, mas isso não importava porque você não respondeu. Você correu para o lado oposto do recinto para ver algo muito mais interessante do que nós pela coleira. Eu me perguntava se você era surdo. Você não era, somente indiferente.
Apenas alguns minutos se passaram antes que a conselheira da adoção perguntasse: “Bem, o que você acha? Você gosta dele?”
“Acho que ele serve”, eu disse.
A conselheira sorriu e me direcionou ao escritório para preencher a papelada. Olhando para trás, acho que ela não era uma conselheira de adoção muito boa. Ou isso ou ela era brilhante. O arrependimento já estava me dominando, mas eu estava com vergonha de admitir que tinha mudado de ideia. Eu nunca tinha tido um cachorro antes e ao me dar conta do transtorno que você traria, desejei me afogar lentamente.
Meu marido levou você até o banco de trás do nosso carro e eu me arrastei para sentar ao seu lado em nossa jornada para casa. Seu coração estava batendo tão rápido quanto o meu naquele dia? Você estava tão cheio de medo e expectativas?
Naquelas primeiras noites, eu acordava e olhava você de pé ao meu lado, me observando enquanto eu dormia. Então eu ouvia o barulho de suas unhas na madeira enquanto você ia para o outro lado da cama para ver meu marido por mais alguns momentos antes de voltar para sua própria cama. Você fez esta viagem muitas vezes durante a noite.
No começo, queria te levar de volta ao abrigo. Eu nunca te disse isso? Eu estava despreparada e insatisfeita. Secretamente, eu estava com medo pela sua vida e pela minha. Você não estava comendo. Eu não estava dormindo. Foi um desastre. Meu marido me fez ficar com você.
Você se lembra do dia em que aprendeu a sentar? Isso foi tão incrível para você quanto foi para mim? Você se lembra de todo o tempo que passamos no quintal, eu te ensinando a pular sobre tábuas apoiadas em latas de tinta? Eu tinha grandes planos para você. Nós íamos competir em agilidade. O único problema era que você não gostava de pular nada … nunca. Você também não buscava nada. O que foi bom, porque também acho que é uma brincadeira idiota.
Eu gosto de ter você por perto. Eu gosto do jeito que você corre na cerca dos fundos quando alguém caminha pelo beco, do jeito como você meio que dança pela casa quando está de bom humor, do jeito que você vira de costas na luz do sol depois de um banho.
O ritmo constante do seu ronco me faz companhia nas noites em que meu marido trabalha até tarde. Quando andamos pela rua, as pessoas costumam me dizer: “É um cachorro muito bonito”.
Você deita no chão, atrás de mim, respirando pesadamente enquanto escrevo esta carta de amor para você. Espero que depois de todo esse tempo, talvez você me ame também.
Texto traduzido / Por: H. Lovelyn Bettison
Crédito/Fonte: https://thebark.com/content/love-letter-my-dog
