Apesar da crescente evolução da população com seus animais domésticos, o país recebeu nota D na edição 2020 do Índice de Proteção Animal.
Se há tantos pets dentro das residências, por que o número de cães abandonados continua crescendo? Fácil. Há uma falha no processo da adoção (i)responsável.
É notável a evolução do comportamento entre as pessoas com os animais. De melhores amigos, muitos pets passaram a ser considerados membros da família.
Há algumas décadas, os tutores não permitiam que o cachorro entrasse em casa. Hoje, vários dormem na cama com a família.
A matéria publicada pela revista Super Interessante, mostra que a consultoria alemã GFK, entrevistou 27 mil pessoas em 22 países, para descobrir em quais nações há mais bichos de estimação em casa:
- Argentina (82%);
- México (81%);
- Brasil (76%).
Contudo, o que mais chama a atenção é a porcentagem dos cães. 58% dos brasileiros têm cachorro em casa. Esses dados são extremamente satisfatórios, pois mostram a proximidade que o ser humano criou com os animais.
Porém, se a polarização de cães adotados – principalmente durante a pandemia – trouxe esperança, o número animais abandonados veio como um balde de água fria.
De acordo com a Ampara Animal, de 2020 até 2021, o índice do abandono aumentou, em média, 61%. Isso significa que as adoções desses cães foram feitas de forma irresponsável e sem planejamento.
O abandono tira a qualidade de vida do animal e o deixa em situação vulnerável
Quem decide adotar um cão precisa estar ciente sobre o histórico de vida dele. Uma grande parcela dos cães abandonados fica com sequelas emocionais, como traumas, estresse, medo e ansiedade. Consequência dos maus-tratos e perigo constante vivenciado nas ruas.
Quem prefere comprar um cachorro também não está isento. É necessário pesquisar antes a raça, porte, personalidade e outras características do pet. Isso evita “surpresa” caso o cão cresça mais do que o esperado ou tenha muita energia para gastar.
Todos sabem que nenhum cão pede para ser adotado. Ele só ganha uma casa após o tutor o escolher. Sendo assim, quem adota tem obrigação de atender todas as necessidades básicas desse animal, além de proporcionar bem-estar.
Na teoria é bonito, mas infelizmente não andam aplicando na prática. Segundo os dados publicados no World Animal Protection, o Brasil recebeu nota D em um ranking que classifica os países de acordo com sua legislação e políticas de bem-estar animal.
Enquanto países como Suécia, Reino Unido e Áustria foram classificados com nota alta, o Brasil regrediu na classificação.
Como mudar esse cenário?
Acima de tudo, a conscientização é a principal ferramenta para erradicar o abandono. A falta de preparação, entendimento e planejamento são as causas raízes.
O tutor quer viajar nas férias ou mudar de casa; o pet está com comportamento arisco ou destruindo objetos da casa, por exemplo. São situações que podem ser resolvidas, mas que muitas pessoas não sabem lidar.
Contudo, o tutor que está preparado para cuidar de um animal, entende suas obrigações e sente empatia por aquele ser dependente, tenta encontrar uma solução, jamais cogita o abandono.
Outras ações, além da conscientização, também podem interromper esse ciclo:
- castração;
- programa de incentivo à adoção;
- levar a causa animal às escolas;
- adoção responsável.
Compromisso x escolhas impulsivas
Ter um cão é adquirir responsabilidade por outra vida a longo prazo – no mínimo, por 12 anos. A chegada de um pet traz felicidade, amor e risadas. Mas também traz adaptações, mudanças, dedicação e gastos.
Geralmente o cão chora nos primeiros dias, faz necessidades no lugar errado, destrói objetos pessoais da família. E cabe ao tutor ensinar o que é certo e errado. A partir do primeiro dia do cão em casa, cria-se um compromisso com a vida daquele animal.
Escolhas impulsivas trazem arrependimentos, mas o cachorro não deve pagar por isso. Afinal, ele não pediu para estar ali. Sem punições, sem brigas, sem abandono. Tudo pode ser resolvido se houver planejamento, calma e estrutura.
A convivência precisa ser saudável para ambos. Por isso, é essencial refletir se realmente todos da casa estão prontos para receber um bichinho.
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