A prevenção e conscientização sobre as doenças neurodegenerativas dos cães é muito importante para a saúde do animal.
Fevereiro Roxo não é só um mês de campanha para alertar os seres humanos sobre doenças sérias, como o Lúpus e o Alzheimer, mas também um alerta para os tutores de cães idosos.
A Síndrome da Disfunção Cognitiva (SDC) não tem cura e pode afetar muito a qualidade de vida do animal. O cão pode não reconhecer mais seu tutor, ficar desorientado, fazer as necessidades em qualquer local e vocalizar bastante.
Ter conhecimento sobre as doenças que podem acometê-lo, independentemente da raça ou idade, é extremamente importante para saber como agir.
Muitos cães idosos são abandonados com frequência por muitos tutores que não querem se responsabilizar e nem gastar.
Por isso, antes de adotar, é necessário refletir se realmente terá disposição a longo prazo para cuidar de um cão idoso.
Afinal, todos os filhotes envelhecem e é de extrema crueldade e irresponsabilidade abandoná-lo quando mais precisa. Além disso, o abandono é crime!
Entrevista
Em entrevista ao Totós da Teté, a veterinária Beatriz Pereira, explicou mais detalhes sobre a doença e como o tutor deve cuidar do animal.
Totós da Teté: Quais são os principais distúrbios e disfunções neurológicas que acometem os cães idosos? Por que eles se desenvolvem em cães idosos?
Veterinária Beatriz Pereira: O principal distúrbio é a Síndrome da Disfunção Cognitiva (SDC). É uma condição semelhante ao Mal de Alzheimer em humanos, sendo uma doença progressiva e neurodegenerativa de cães e gatos idosos.
Ela se manifesta através de alterações de comportamento, deficiência de aprendizagem, memória e confusão. Temos muitos estudos na área, mas ainda não se descobriu o motivo pelo qual a SDC acontece.
Uma hipótese é pela deposição de material amilóide nas placas e proteínas tau fosforiladas, presentes nos neurônios. Isso causa uma degeneração neuronal, problemas vasculares no cérebro, inflamação do Sistema Nervoso Central e atrofia deste.
Como agir caso o animal fique doente? Há tratamento para essas doenças?
Temos um tratamento, mas infelizmente não há cura. O tratamento tem como objetivo retardar a progressão dos sintomas, e garantir uma melhor qualidade de vida para o cão ou gato e sua família.
Ele se baseia em 4 pilares:
Clínico: definido com o veterinário, preferencialmente um comportamentalista ou neurologista. Nesse tratamento também deve estar incluso uma abordagem amigável com o paciente e com a sua família. Muitas vezes, por serem animais idosos, haverá outras questões clínicas acompanhando a SDC.
Tudo deve ser pensado de acordo com o que é melhor para o paciente e também para a sua família humana. Por exemplo, exames ou tratamentos muito invasivos podem não ser a melhor escolha, dependendo do estado do paciente;
Dietético: suplementação de nutrientes neuroprotetores e antioxidantes;
Rotina e ambiente: deve-se otimizar o ambiente, facilitando a locomoção do pet e acesso a recursos pela casa. Exemplos: instalação de piso antiderrapante para evitar quedas; incorporar no chão texturas específicas que ajudam o animal a chegar ao pote de água e comida; carrinhos de locomoção; rampas de acesso para lugares que o pet quer ir ou limitar o acesso para que ele não caia; aumentar áreas de banheiro e água.
Lembrando que se deve provocar o mínimo de mudanças no ambiente, e se necessárias, fazê-las de forma lenta, para que o pet se acostume.
Estimulação cognitiva: manutenção de coisas que o pet gosta de fazer com sua família, como passeios adaptados (os carrinhos de locomoção são ótimas escolhas nesse momento), brincadeiras e carinhos.
Pré-disposição
O tutor pode tomar alguma medida para prevenir? Há raças mais pré-dispostas?
Não há uma correlação genética comprovando a predisposição para a SDC, porém sabemos que ela se desenvolve com maior frequência em animais mais longevos.
Assim, raças pequenas como poodle, pinscher, entre outros, têm uma tendência maior a desenvolver essa síndrome, justamente por chegarem a idades mais avançadas.
Quanto à prevenção, há estudos comprovando que animais com um maior histórico de treino têm menor tendência a desenvolver a SDC.
Então, é sempre importante desafiarmos a cognição do nosso cãozinho, seja com treinos, quebra-cabeças, enriquecimento ambiental, e criar situações diferentes no dia a dia.